Oneomania: Quando comprar vira um problema

O Natal é considerado pelos comerciantes a melhor data do ano para vender. Acontece que para muitos consumidores, o forte apelo ao consumismo que a época remete, pode desencadear ou agravar um problema sério: a oneomania, compulsão por compras. A psicóloga Claudete de Morais, conta que este tipo de compulsão torna-se mais evidente nas datas comemorativas, como no Natal. “Existe todo um ambiente muito favorável, campanhas motivacionais provocando estas reações, como receitas mágicas de felicidade, afloram o desejo de preencher a insatisfação das pessoas. Ao mergulhar no mar da compulsividade, o ego se agiganta, o sentimento de poder toma conta, tudo parece alegria, entra no auto engano, para mais tarde ter que enfrentar outros problemas, às vezes muito sérios de ordem financeira”.

Acompanhe trechos da entrevista que a psicóloga concedeu à Fernanda Schneider, do Jornal Página 3.

JP3 – É frequente as pessoas buscarem ajuda por conta deste problema?

Claudete – Sim, quando a angústia toma conta, a pessoa não sabe mais que direção dar à sua vida, ela vai buscar tratamento.

JP3 – Qual o perfil de um comprador compulsivo?

Claudete – O comprador compulsivo tem como características nível de ansiedade muito alto, auto-estima rebaixada, necessidade de mentir, de esconder dados relacionados às suas compulsividades, pois sente arrependimento ou culpa, às vezes fica envergonhado com o próprio comportamento. É comum deixar as compras na loja e pegar mais tarde. Tem intensa inquietação quando não pode efetuar suas compras, muitas vezes esta reação é similar a de um dependente químico, pois comprar compulsivamente também é um vício. A pessoa tem dificuldade de reconhecer seu transtorno

JP3 – Por que uma pessoa se torna compradora compulsiva?

Claudete – Em decorrência de seu nível de ansiedade muito alto, desencadeado por uma significativa insatisfação, que tanto pode ser de ordem afetiva, sexual, profissional, financeira ou outras. Para aliviar esta ansiedade utiliza-se do mecanismo de compensação para preencher a insatisfação, por exemplo, esta insatisfeita com sua vida amorosa. Vai às compras, onde por momentos sente-se realizada e feliz, muitas vezes gastando o que não pode. Logo após vem a angústia de como efetuar estes pagamentos, aflorando tristeza e ansiedade. Porém o sentimento de compensação gerador desta alegria torna-se o registro mais forte, levando o indivíduo a repetir o mesmo padrão comportamental em busca desta ilusória alegria.

JP3 – Como identificar quando vira um problema?

Claudete – Quando os problemas florescem, dívidas, conflitos familiares, cobranças de toda ordem, quando a pessoa percebe que não consegue mais ter controle de seus impulsos.

Muitos destes problemas já foram motivos de separações de casais. Todas as cobranças somadas às internas, promovem muito sofrimento na vida da pessoa, desencadeando um mecanismo de auto flagelo, pois na verdade ela se tornou uma viciada, promete mil vezes que não irá comprar o desnecessário, mas não consegue vencer a compulsão.

ALGUMAS DICAS PODEM AJUDAR

A psicóloga Claudete de Morais afirma que para vencer esta compulsão é necessário disciplina e força de vontade. Ela enumera algumas dicas que podem ajudar no controle:

· Não ter talão de cheques, não usar cartão de crédito, contar com a ajuda de familiares e amigos, no sentido de não emprestarem dinheiro.

· Fazer um inventário de suas dívidas e buscar formas alternativas de liquidar, estabelecendo metas.

· Fazer leituras do seu comportamento: Por que estou comprando? Necessito destes objetos? Estou alimentando meu vício?

· Rebaixar o nível de ansiedade e de estresse, praticando exercísios físicos, técnicas de relaxamento físico e mental, meditação.

· Descobrir causas da sua insatisfação. Caso não consiga, buscar tratamento medicamentoso e psicoterapia

· Buscar prazer de outras formas, fazer da alegria o seu alimento.

· Fazer enfrentamento deste comportamento, não comprar o desnecessário, sempre avaliando sua condição financeira

Não tenho Tempo!


Vivi com emoção e intensidade, lindos momentos do dia a dia;
Outros se perderam, não vi. Tempo que voa velozmente, que confunde a mente da gente. Mil informações, mil solicitações, É o avanço tecnológico a nos desafiar, a exigir novas posturas.
Este mundo cibernético e virtual abre universos fascinantes, geradores de sentimentos ambivalentes: euforia, sentimentos de onipotência este mundo está a ofertar. Por outro lado, o medo do novo e de por ele ser controlado, de nos perdemos, do que na realidade somos na confusão entre o real e o virtual.
Ao entrarmos na velocidade do tempo, muitas vezes, no piloto automático ficamos e, nos engessamos.
O tempo passa corrido, meu coração fica partido;
Ao ouvir a manchete que está a bailar, nos lábios de muita gente:
Não tenho tempo! Para me cuidar! Para me amar! Para com a família ficar! Para os filhos olhar! Para o amigo visitar!
Para exercícios físicos praticar! Para o lazer! Para o prazer!
Para com a natureza me encantar! Para amar! Para viver!
Só tenho tempo para trabalhar!

Todos estão a reclamar que o tempo passa muito rápido, já não da mais para fazer, o que antes se fazia. Temos a sensação de que o tempo reduziu e, as tarefas se multiplicaram.
As informações jorram e as pessoas correm. Lá se vão os empresários estressados, movidos pelas pressões, escravos do capitalismo, que deforma a vida de gente. Ditando normas e valores, presentes em nossas escolhas estão;
Carregamos fardos desnecessários, para o Sr. Ego agradar e o vicio alimentar:
“ Temos que ter! Temos que mostrar! Temos que acumular!”
As avenidas e estradas, entupidas de carros estão, na cabeça um turbilhão, o que fazer com toda esta confusão. A comunicação se faz através dos aparelhos desta geração.
Daí vem à saudade, da serenidade e da calmaria;
Do café da manhã, que reunia todos, com alegria;
Das roscas, dos biscoitos, dos pães quentes da padaria;
Do aroma perfumado do café, que nos inebria;
Do tempo que se destinava a falar, sobre muitas estórias,
Das famílias, dos passeios, dos sonhos, dos medos e das alegrias que cada um sentia.
Hoje a reunião ocorre com: a tv, celulares e computadores, temos a impressão que o tempo se perdeu, como também a magia das trocas afetivas, esvaeceram.
A magia do olho no olho, do calor, do afago;
Os encontros, desencontros e reencontros;
Flambados com muito amor e alegria.
Tornam-se mais difíceis a cada dia.
É momento de usarmos de discernimento, para avaliar, sentir, decidir e, redimensionar nosso viver; Buscando o equilíbrio, aprendendo a lidar com o descompasso do tempo interno com o tempo externo.
Ficar no aqui-agora, entrar nesse movimento de mergulhar em si mesmo, dentro de um processo de auto conhecimento, tendo o entendimento que o controle deste tempo, está em nossas mãos.
Na reconstrução do nosso mundo particular, usarmos a argamassa do bom senso, os tijolos do conhecimento, os ferros da fé, o cimento do amor, o reboco da determinação, e o gesso da sabedoria. Com amplas aberturas, muita luz, para tudo ver, analisar e saber escolher, priorizando um mundo melhor.
Artigo publicado no Jornal Página 3, edição de 08 de Janeiro de 2011.

Ilustração: Artista Plástica Regina Gottardi