Educação não violenta!

Educar fala muito sobre nós. Sobre as nossas dores, as nossas alegrias, a nossa infância, a nossa solidão. O grito fala sobre a nossa sobrecarga, sobre a rotina que atropela, sobre o estresse no trabalho, sobre sonhos desfeitos. As palmadas falam sobre a nossa falta de estratégias, sobre a nossa pouca capacidade de diálogo. A capacidade de aprendizado da criança não acaba, a nossa regulação emocional sim. E o descontrole, a falta de habilidade de lidar com a raiva, a vontade de fugir da frustração saem em forma de berro e tapa. E dizer que a dor de quem bateu é maior que a de quem apanhou fala da incapacidade de assumir a responsabilidade pelo que fazemos, pelo que sentimos e vivemos. É mentira dita pra não desabar. O "Para de chorar" fala de nossos choros presos. Das lágrimas que acumulamos desde a infância. Dos abraços que não recebemos, do acolhimento que não sabemos de onde tirar porque não o temos dentro de nós. Das lágrimas que queremos derramar pelos planos frustrados, pelo cansaço, pelos dias que parecem repetições de um filme ruim, pela falta de rede de apoio. A falta de tempo para escutar os nossos filhos fala sobre as palavras que engolimos, sobre incapacidade de escutar a si, sobre o padrão social de desconsiderar o poder do diálogo. Sobre o nosso próprio silenciamento. Não é sobre eles. Os comportamentos das crianças são gatilhos para as dores que já estão em nós. Os nossos comportamentos são responsabilidade nossa. E enquanto a gente oscila entre culpar as crianças terríveis e difíceis que trouxemos ao mundo e culpar a nós mesmos - culpa e responsabilidade não são a mesma coisa e nós não precisamos da primeira - não aprendemos a reconhecer e lidar com esses gatilhos. Não aprendemos a nomear as nossas dores e não descobrimos estratégias para lidar com elas. Educar fala sobre nós. Sobre nossas limitações, sobre as nossas potencialidades. Educar é escola, é crescimento, é aprendizado. Educar pode ser fonte de transformação: nossa, deles, do mundo. Educar é autoconhecimento e cura. Não é sobre punições e estrelinhas de bom comportamento. Fala muito mais sobre nós que sobre eles. No próximo grito, no próximo descontrole, na próxima impaciência, escute a si mesmo. O que o seu comportamento tem falado sobre você?


Texto: Elisama Santos.

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