O Fervilhar da panela!


A fala emudece, o rosto endurece.
Engole em seco para não explodir.
Engasgado fica, diante do soco que parece ser.
Socado está a perturbar,
A borbulhar, pronto para explodir.
Explodir para fora ou para dentro.
Fecha a tampa da panela para segurar.
A panela está a fervilhar.
Um coquetel de sentimentos a fermentar:
Raiva, dor, humilhação, medo, frustração;
Misturados estão, na panela de pressão.
Raiva contida, escondida,
Anos a fio, a trilhar, a remendar, a enferrujar.
A contaminar o ser, que não poder ser,
Que não tem coragem de simplesmente ser.
O que deseja ser.
O medo paralisa a ação.
Robustece a panela de pressão.
Quantas panelas que estão a fervilhar,
Na ciranda da vida, quantas falas emudecidas.
Para conflitos evitar.
O foco é sempre o outro,
Porque tem medo do outro, ou para o outro poupar,
Para o outro não machucar.
Neste processo de o outro proteger;
O ser decresce, o ser desaparece,
Nas borbulhas da panela de pressão.
Para a panela não estourar,
O ser deve no foco ficar.
Seus desejos priorizar.
Para a panela esvaziar:
O medo enfrentar,
A raiva vomitar,
A humilhação resgatar,
A dor elaborar,
A frustração superar,
Novas metas estipular.
Deixar o amor por si próprio aflorar.
Em si mesmo acreditar.
A Alegria buscar,
Para ser, o ser que deseja ser.

Autoria, produção e publicação
Claudete de Morais
Psicóloga- CRP/12/01167

Não fui eu!!


Rosto endurecido, olhar perdido,
Lábios fechados, silêncio dobrado,
Corpo franzino, andar cansado,
Com apenas nove anos de idade.
Não revelava a ninguém o som de sua fala;
Curiosos todos perguntavam, é mudo?
As professoras informavam que segundo a mãe, não era.
Na escola todos o agradavam para sua voz conhecer.
Os lábios continuavam fechados, o silêncio dobrado.
Encaminhado para a terapia,
No silêncio, selado ficava.
A terapeuta não desistia, continuava com a ludoterapia.
Algumas conquistas ocorriam,
Um vínculo afetivo se estabelecia.
Após vários meses, ao brincar com seu baú de brinquedos,
Retira do baú: barbante, papel e algodão.
Com paciência amassa o papel, junta o algodão e enrola o barbante ao redor do mesmo.
Vai até a cozinha pega uma caixa de fósforos, vem correndo e risca o fósforo.
Ao ver a chama de fogo crescer grita:
” Não fui EU!!!! Não fui EU!!!!
Sai correndo, chorando sem parar!
Pela primeira vez a terapeuta ouve a voz do menino.
Ao romper o silêncio, em sua defesa gritava.
O silêncio encobria a dor, o medo e, a culpa.
Gritando rompe o silêncio, rompe a culpa.
Rompe à dor, enfrenta o medo,
A liberdade conquista!

Aos quatro anos de idade a casa deste menino foi incendiada, enquanto ele e seu irmão menor dormiam. Seus pais não estavam, haviam saído para trabalhar. Segundo depoimento deles, quando chegaram em casa, o fogo já havia destruído tudo. O menino de quatro anos estava próximo de uma árvore encolhido e seu irmãozinho havia morrido queimado. Durante o processo terapêutico, o menino revelou sua dor e culpa, por não ter conseguido salvar o irmãozinho. Ao elaborar a culpa e fazer enfrentamento de seus medos, passa a interagir, a falar e a integrar-se no contexto social.

*Artigo inspirado em fatos reais*
Autoria, produção e publicação
Claudete de Morais
Psicóloga CRP/12/01167.

Cocô na calça!




















Com fúria no olhar, a mãe está a mostrar,
Para a filha de quatro anos, o cocô na calça a cheirar.
Apavorada a filha fica a tremer,
Com medo do que vai acontecer.
Entre gritos e tapas, a mãe fica a xingar.
No quarto escuro, deixa a filha ficar.
Oh! castigo cruel!
No escuro, vem os fantasmas a assustar.
Como fugir do terror, que está a atormentar?
Na testa, o suor a pingar;
Nas pernas, o xixi a escorrer;
Não sabe o que fazer.
O tempo não passa, pensa que vai morrer.
De seus brinquedos começa a se despedir.
No peito uma dor,
No rosto uma expressão de pavor.
Pensa que sua mãe a deixou de amar.
Na escuridão fica a chorar.
A porta se abre, a luz volta a brilhar;
Mais uma vez a mãe faz a filha cheirar,
O cocô da calça, para lembrar,
Que é proibido, cocô na calça fazer.
A mãe acredita que a filha a lição aprendeu.
A filha nunca mais, cocô na calça fez.
O tempo passou, a filha cresceu.
Uma linda mulher se tornou.
Com muitas limitações que a faziam sofrer.
O medo do escuro somava-se a outros medos,
Medo de lugares fechado, sofria de claustrofobia;
Medos que cerceavam sua vida e a alegria de viver.
O trauma do cocô na calça, muitos transtornos provocou.
Com mania de limpeza fica a esfregar.
Tudo tinha que brilhar para a sujeira tirar.
Como tirar as marcas do erro, da reprovação e da condenação?


O episódio do cocô na calça foi determinante para o desencadeamento de todos estes transtornos, que passaram a limitar a vida deste ser.
Aos pais um conselho, as palavras e ações, especialmente na infância, são decisivas na construção da vida de um ser, elas são modeladoras e direcionam nossas escolhas. Nossa vida é o reflexo de nossas escolhas.

*Artigo inspirado em fatos reais*
Autoria, produção e publicação:
Claudete de Morais
Psicóloga CRP/12/01167.