O Funeral dos Sonhos

Na face uma lágrima, na garganta um grito perdido.
No olhar o terror, no peito uma dor.
Pupilas dilatadas, respiração ofegante;
A denunciar o medo, o temor.
Medo que cola e como cola não desgruda.
Que toma conta da gente, no mundo onde à gente mora.
É gente com medo de gente, é gente matando gente.
Muros, grades, muralhas são levantadas.
O protegido passa a ser prisioneiro, da própria armadura.
A criança não pode mais brincar, pular, solta a cantar.
Lá se foi, o sonho da pipa solta no ar e com ele tantos outros.
No funeral dos sonhos estão: o assalto, a violência, a morte e a dor.
A natureza se entristece, o ser adoece, a sociedade padece.
De mãos atadas, anestesiados pelo próprio medo.
Assistimos o massacre do ser que deixou de ser.
Balas perdidas e fogo, são ateados em pessoas, é a sociedade em luto.
As pessoas estão impregnadas pelo medo,
Medo das agressões, medo do medo.
Transtornos de ansiedade, de fobia, de pânico;
Transtornos de Stress Pré e Pós-Traumático tomam conta da gente.
Um inferno fora, um inferno dentro, dentro de cada ser.
A que ponto chegou o sofrimento do ser humano?
Gritantes são os contrastes.
A ciência avança, a tecnologia surpreende.
A globalização se insere e o mundo se torna uma grande aldeia.
Sentados frente à tv e ao computador, a gente vê e fala, com gente de toda a aldeia.
Com medo de gente, a gente se isola e, usa a maquina para falar com gente.
Em meio a tantos avanços e abundância, o contraste imprime: a impotência, a solidão, a fragilidade.
O homem nunca esteve tão solitário, impotente e fragilizado.
Em meio a tantas conquistas, em uma sociedade livre e dita democrática;
Perde-se o mais importante: a liberdade, a paz e muitas vezes a própria vida.

Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

Oficina Maluca

Andar cansado, corpo curvado a se arrastar.
Corpo atado, olhar atento e preocupado.
Na cabeça, mil idéias a sufocar.
É gente que sobe morro, é gente que desce morro a procurar;
O alívio de suas angústias, de suas idéias, que estão a maltratar.
Idéias que vem e vão, idéias que vem e ficam a perturbar.
Dia e noite a oficina das idéias a trabalhar.
Sem parar ela leva a gente a endoidar.
Liga a tv, para das idéias se libertar, lá vem noticias a assustar.
Liga o som, para as idéias afugentar;
Embaladas pelo som, as idéias pulam a pipocar.
Apaga a luz, fecha os olhos para dormir e das idéias se libertar;
Como uma sirene elas ficam a agitar.
A gente fica sem dormir, sem descansar e as idéias a pulsar.
O corpo dói, o sono vem, mas não dá para deitar é hora de trabalhar.
A caminho do trabalho a gente reza para das idéias se livrar.
Reza que não é atendida, pois a oficina continua a trabalhar.
Como fazer a oficina das idéias, parar de trabalhar?
Idéia que cola colada está de preocupação, medo e temor.
Quanto mais aumenta o desejo delas se libertar;
Mais cresce a ansiedade, a tensão e a dor.
Pensamentos intrusivos continuam a faiscar.
A gente grita que está na hora da oficina fechar;
Para a mente aliviar e o corpo repousar.
É momento de faxinar a mente e dela arrancar;
Ervas daninhas, criadas pelo medo, medo de perder, sofrer, amar e morrer.
É momento de enfrentar o medo, rebaixar a ansiedade e em si acreditar.
Para a ansiedade reduzir, mais exercícios físicos e respiratórios praticar.
É momento de ascender à chama do amor, da fé e, a mente acalmar.
Com o universo se harmonizar, para meditar e, a mente esvaziar.
Para a oficina desligar, assim que desejar.

Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

Bodas de Ouro


Bodas de Ouro, de anos dourados,
Anos compridos, vividos lado a lado,
A dois, no meio da filharada.
Anos costurados, com amor e dedicação.


Bordados, com paciência e compreensão,
Rebordados, com renúncias e determinação.
Modelo de vida, que retrata o possível, em meio ao desencanto.
Modelo que se choca com os modelos atuais.


Da intolerância, do desamor, do imediatismo, do egoísmo.
Modelo que perdeu a receita do caminhar a dois.
Dos ingredientes indispensáveis para esta longa caminhada,
Do amor, regado com respeito e confiança.

Flambado com as trocas, carinho e dedicação.
O som do salão e o perfume das flores denunciam,
O festejar das Bodas de Ouro, de José e Marlene Maria.
Ao som do violino o casal desfila pelo salão.


Nos olhos dos filhos, netos e parentes, a emoção.
O fotografo retrata a família com devoção.
Retrato que conta a história do amor e da dedicação.
Dos que estão e, como estão.


Dos que se foram e, não voltarão,
Dos que unidos permaneceram,
Para plantar mais vidas, sementes de muita emoção.
Antonio celebra com devoção, a renovação dos laços desta união.


Em sua fala pontua a força da paciência e da dedicação,
Que construiu o equilíbrio desta relação.
A música, o perfume das flores e dos sabores a serem degustados,
Imprimem ao evento beleza e poesia.


Na pista, muita dança e alegria.
Os presentes mergulham na sinfonia.
As Bodas de Ouro comemoram com euforia.
José e Marlene Maria

Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

A Pulga

Pulga que pula, pula sem parar,
Pula, coça,perturbando até cansar.
Dúvida que pulsa, lateja, na cabeça a torturar,
Dúvida que pula como pulga sem parar.
Dúvida que cresce, molestando sem descansar,
O sossego vai tirar e, cinzento tudo ficará.
Sem sabores, sem cores, só dores,
A dúvida como a pulga se infiltrará.
Como veneno contaminará, a todos que atingirá.
Destruindo o que antes parecia sólido, altivo, brilhante.
Pulga que pula, desconcerta e, ninguém acerta onde está.
Ó dúvida cruel, que pulsa e pula se transformando em fel.
Que amarga e atormenta a vida da gente.
O desejo é expurgar o fel, retirar a dúvida, libertar o réu.
Magicamente liquida-se a dúvida, duvidando dela mesma, negando-a.
No céu azul, o sol volta a brilhar.
Num misto de euforia e coragem, a gente passa a acreditar,
Que tudo vai mudar, a confiança voltou a reinar.
O coração se aquieta, a alegria floresce, a dúvida desaparece
Em busca de novos sabores, a gente tenta se enganar.
A pulga volta pular, para a segurança da gente, balançar.
Pulga que em seu ventre traz, dúvida a infernizar.
Pulga da desconfiança, da traição, do desamor, da destruição.
Pulga do insucesso, da desonestidade, da agressividade, da exclusão.
Pulga que reveste o medo, medo de perdas, medo da competição.
Dúvida que se robustece na competitividade do mundo moderno.
Onde os saberes tem que ter um diferencial, ser o melhor.
Onde os saberes às vezes, perdem os sabores.
Como competir, sem a dor da dúvida sentir?
Se a auto-estima em baixa estiver,
A dúvida como fermento crescerá e, a pulga se alojará.
Para a auto-estima subir, necessário a auto-confiança construir.
Mergulhar em si mesmo, deixar aflorar seu potencial natural.
Deixar borbulhar o que há de melhor em si, surpreender-se.
Com a realidade conviver, focada no aqui-e--agora.
Ciente que a dúvida é o filhote do amanhã, e no amanhã se perderá.
Lançar olhares para o horizonte, que de tão distante, a gente não sabe bem como será.
Ciente que se hoje a gente estiver serena e confiante, o amanhã certamente será brilhante.
Descortinar o seu próprio brilho e, com ele se encantar.
Para a dúvida expurgar e, o coração aquietar.


Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

O Fantasma


Olhos esbugalhados, lábios apertados,
Mãos tremulas, narinas dilatadas.
Pés atados, arrepios de medo e terror.
No peito um coração acelerado.


É o ser com medo, do medo.
Medo do que possa acontecer.
O fantasma está na mente.
Na mente de cada ser.

O alerta foi ativado.
Nem ele entende o porquê.
Sente o desespero, fica limitado.
Sem saber o que fazer.

Gritar, fugir, correr!
O medo é de morrer!
O fantasma está a crescer.
A angústia é como vencer?

Homens e mulheres estão a enfrentar;
A síndrome do pânico, a se alastrar.
Mal da sociedade atual.
Fortalecida pela doença social.

Onde a violência e a criminalidade,
Vivem na impunidade.
Despertando no ser;
Impotência e fragilidade.
Cabe a cada um, a sua parte fazer.

A violência combater.
Reforçando o seu ser.
Enfrentando o fantasma, para vencer.
O medo enfrentar, enfrentar.

Para ele esmorecer e o ser crescer.
Fazer leituras do que está a sentir;
Para saber que é capaz de vencer.

Entender que é possível vencer.
O fantasma é fruto do seu ser.
Diante do enfrentamento,
O fantasma deixará de ser

Enfrentar as limitações, ousar, ousar.
Ter fé e, em si mesmo acreditar.
Dos grilhões do medo se libertar.
Para uma vida nova desfrutar.

Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

Dourei a pílula!


Sonho dourado, surrado de tão almejado.
No coração o desejo, na garganta um nó apertado.
Poeiras ao vento, dos encontros e desencontros,
Na busca do côncavo e do convexo,
Na procura do ser perfeito, par perfeito, amor perfeito.
Almejando o perfeito, mergulha no mundo das idealizações,
Transforma o ideal em real.
Levado pela carência modela o ser, no ser desejado,
Ao esculpido, projeta seus sonhos, constrói castelos,
Borrifa purpurina, embelezando o produzido.
Empresta ao ser um brilho que não lhe pertence,A todos propaga, o quanto ele é maravilhoso,
Desliza entre as ondas da paixão,
O tempo passa, o cotidiano cobra, o real se impõe.
O doce fica amargo, a frustração toma conta;
Desapontado pergunta: O porquê do desencanto.
Entristecido percebe, o sonhado não existe.
O sonhado foi esculpido, com o ouro das idealizações e da utopia.
O brilho sumiu e um novo ser surgiu.
Diante do novo, arrepios... Finalmente um insight.
Dourei a pílula!Na ciranda da vida vivemos a dourar muitas pílulas,Pílulas que encobrem nossas reais dificuldades.
Pílulas que mascaram nossas carências.
Com o tempo o brilho desvanece e o inevitável acontece.
Só nos resta, aceitar o real, fugir do ideal,
Descobrir no real seu encanto, sua beleza, sua poesia.
No aconchego de si mesmo, deixar aflorar o amor,
Que pode não ser perfeito, mas é real.



Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

Mulher!


Mulher! Musa de inspiração, retrato da perfeição.Expectativa do avanço, da revolução.Da tecnologia, da ciência, da informação.A exigir desta mulher a perfeição.
Mulher de mil papéis a desempenhar.Mulher de mil maneiras a encantar.Mulher de mil esforços a se superar.Mulher de mil facetas a representar.
Mulher! Brilho e luz, que dá luz.Ser que se renova, ao nascer o novo ser.Ser que molda o ser que deu a luz.Mulher! Raiz de um novo mundo, raiz de um novo ser.
Mulher! Com seu perfume a exalar.Mulher! Com sua beleza a encantar,Mulher! Com sua meiguice a seduzir.Mulher!Com sua magia a atrair.
Mulher protótipo de beleza e perfeição.Diante deste modelo, deste padrão.Surge o peso e a frustração.Diante da pressão e da competição.
Ser mulher, ser exuberante, ser ardente.Ser mulher, esposa fiel, ser mãe presente.Ser mulher, empreendedora e atendente.Ser mulher, dona de casa e competente.
Mulher de sensibilidade aguçada.Deve ter a fala açucarada.As emoções negativas reprimidas.Para ser por todos, aplaudida.
Mulher que ser é este?Que não pode simplesmente, ser.Sem ser perfeita, chorar e crer.Podendo errar, se aceitar e ser.
A esta mulher que carrega tamanha bagagem.A esta guerreira, minha homenagem.Que troféu daria a esta mulher.Se liberta estivesse dessa bagagem
Passaria pela metamorfose de ser mulher e, se priorizar.Rasparia o gesso em que modelaram seus sentimentos.Para dentro de si mergulharNeste mergulho o prazer encontrar.
Descobrir que é possível mudar.A mulher maravilha, deixar de ser.Aos sonhos voltar, de ser apenas mulher.Sem se preocupar de, a perfeição ser.
Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais Psicóloga com formação Psicanalítica CRP/12/01167

O Brilho da Etiqueta


Um olhar de cobiça, um suspiro prolongado.
No rosto, um sorriso alargado.
O desejado está no brilho da etiqueta.
Etiqueta brilhante, aprovada pelo consenso modista.
Mais uma vez, a corrida pelo brilho se inicia.
O preço não importa, vale o que ela denuncia.
Quantas lutas e labutas para o sucesso alcançar.
O fascínio antes era restrito apenas aos adultos;
Hoje já encanta as crianças, que ficam a sonhar.
Sonhar com as etiquetas brilhantes, para brilhar.
Mas que etiqueta é esta que está a encantar?
Que poder fenomenal a ela é dado.
Ela representa o poder, o ter.
No mundo capitalista, o brilho está no ter e não no ser.
Que a cada dia mais manipula o ser, em busca do ter.
Nesta corrida desenfreada, perde-se o ser.
Pelo ter, o ser adoece,perde a poesia, entristece.
O stress toma conta de adultos e crianças.
Hipnotizados estão pelas grifes, espelhos de sucesso.
Novas marcas e etiquetas, que a mídia está a propagar.
A disputa continua na ciranda da vida.
A natureza se enfurece, com o descaso e o desrespeito.
Desrespeito ao ser humano, ao planeta e a vida.
Que valores norteiam nossas vidas?
Só nos resta, quebrar esta magia, tirar o ser do estado hipnótico.
Ajuda-lo a mergulhar no mar de suas contradições.
Deixar aflorar suas reais necessidades.
Ao descobrir que sua busca é de aprovação, valorização e aceitação;
Compreenderá, o que deseja não esta fora, mas dentro de si mesmo.
Ao descortinar o seu próprio brilho, perceberá que não é a etiqueta; que lhe dá o brilho, mas sim a sua luz, que ele projeta nela.

A Dona da Poltrona


Com expressão de sofrimento no rosto, voz chorosa está sempre a relatar uma tragédia, onde ela sempre é a personagem principal.
Os relatos assemelham-se a uma tragédia grega, tantos são os detalhes, tantas são as representações.
Seu sofrimento sempre é o maior de todos e, está sempre a procura de platéia.
Diante da platéia, incorpora seu personagem preferido, o sofredor.
Transforma o ombro do outro, no muro das lamentações, buscando a compaixão de quem esta na escuta.
Frente aos seguintes comentários: “Como você suporta tanta dor,” Que cruz pesada você carrega,” “ Só você para aceitar todo este sofrimento,” você é uma artista”. Seu coração dispara de dor e de prazer, ao reconhecimento de sua labuta.
A recompensa pela incorporação do papel de vítima é o seu troféu, sua gloria, seu orgasmo.
Ser o foco, ser o centro, gera o prazer e contenta-se com o ganho secundário, de ser olhada com compaixão, acreditando ser esta, a forma de conquistar amor.
Quantas falas, quantos ombros, quantos consolos, em vão;
Todos tentam demove-la deste quadro, pontuando soluções, dando a mão para sair da poltrona de vitima.
Um grupo de ajuda se forma, pois unidos será mais fácil convence-la de que, a mudança é possível.
Mudança que a levará buscar alegria, prazer, realizações, e ações construtivas.
O entusiasmo domina o grupo, eles crêem que ela irá mudar, irá reagir, irá abandonar o trono de vítima.
Porém a dona da poltrona está viciada nas emoções da sofredora e compulsivamente busca situações, que a deixam cada vez mais atada à poltrona.
Firme em seu posto continua, sentada na poltrona, com os olhos procura nova platéia para seus dramas;
Em suas mãos o troféu de vítima, em seus lábios um sorriso mascarado, com a seguinte legenda: ‘ Quem disse que eu queria mudar?”

*Artigo inspirado em fatos reais*
Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

O Jardim do Vizinho


A insatisfação toma conta;
Os olhos estão sempre a reprovar;
Ora são as pernas, ora os seios,
Nada agrada, sempre existe algo fora do lugar;
Quantas queixas, quantos choros;
Limitam a alegria, que poderia ser borbulhante.
Mas os famosos 2kg a mais, a impedem de gostar de si mesma.
Está sempre a olhar para o jardim do vizinho,
Lá encontra flores mais belas e viçosas;
A grama é mais macia, o verde é mais vibrante.
O jardim do vizinho sempre tem um brilho diferente, mais intenso e encantador.
Neste vai e vem se perde, entra num círculo vicioso, de mazelas e flagelos.
Só não percebe que a fila anda e, ela continua parada,
Voltada para o próprio umbigo.
Triste, desperdiçando o viço de sua juventude.
Prisioneira de seu medo, medo de ser trocada;
Medo de não ser admirada, de não ser amada.
O medo é o seu maior inimigo,
Para fugir deste inimigo, projeta-o no jardim do vizinho.
Este sim é mais exuberante e atraente.
Mas que jardim é este?
Ele representa o outro, que está a competir, a demonstrar que possui mais, que é melhor e tem mais brilho.
Nele é projetada a cobiça, a inveja, a insatisfação.
Por que tanto maltrato?
Vamos olhar para o nosso jardim com mais atenção e carinho,
Valorizar o que é nosso, cultivar novas plantas, arrancar as ervas daninhas.
Descobrir o brilho das estrelas dançantes, presentes no orvalho que embelezam nossas flores.
Ao nos encantarmos com o nosso jardim, fluirá o sentimento de libertação, libertação do medo.
Finalmente a satisfação, a alegria irá borbulhar e, o jardim do vizinho perderá a magia.Será apenas o jardim do vizinho.


Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

O Peso do Nada


Com o sentimento de nada ser;
O ser se encolhe, sem aparecer.
De tanto ouvir que nada é capaz de fazer;
Passa a crer que nada sabe fazer.

A dor cresce, o brilho desaparece.
O sonho desvanece, o ser embrutece.
No meio do nada, o ser entristece.
Estagnado no nada, assim é seu viver.

Acreditando ser um nada, o ser cresce.
Lutando contra o peso do nada;
O ser enfurece, se arma para viver.
No olhar a desconfiança, no peito o desejo de vencer.

O gesso do nada é fruto do desafeto;
Do olhar gélido, da palavra que fere;
Da comparação que humilha e mutila;
Da rejeição, da inadequação, da exclusão.

O sentimento de nada ser;
Deixa marcas no corpo e na alma deste ser.
Atado no peso de nada ser;
Direciona suas escolhas e a vida que passa a ter.

O peso do nada fomenta a raiva e a revolta.
Raiva que fermenta dentro deste ser.
Arrebenta, violenta o ser;
Envenenado fica seu viver.

O peso de nada ser;
O peso de nada fazer;
O peso de nada dizer;
O peso de nada receber.

O peso do nada determina padrões comportamentais.
Na ciranda da vida estamos a observar:
O ser frente ao nada e, como é este lidar;
Vemos bem definido várias formas de lidar.

Com um padrão comportamental agressivo, verificamos:
De agredido passa a agressor, expurgando o fel;
Contaminando seu ambiente, despertando medo e pavor;
Agredindo a todos que estão ao seu redor.

Com um padrão comportamental masoquista, verificamos:
O peso do nada passa a dominá-lo.
Acreditando que não é capaz, não reage.
Constrói um mundo triste sem opções e, submetido fica.

Com um padrão comportamental de superação, observamos:
Busca a superação, raspando o gesso e o fel que o modelaram.
Deixa aflorar seu potencial natural e este mar de contradições.
Liberta o que não é seu e, deixa o novo ser florescer.

Transforma o nada, em tudo buscar e desafiar.
Nesta busca se encanta, deixando o seu brilho aflorar.
Ao longo da caminhada, num aprimorar constante;
Descobre que seu brilho, tem o esplendor do diamante.


Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167

Retalhos do Calçadão


Ao longo das minhas caminhadas pelo calçadão da Atlântica;
Muito aprendi, muito prazer senti.
Cabelos ao vento, brisa em meu rosto, sol em meu corpo.
Para os olhos, uma festa;
A cada dia a natureza nos oferece um espetáculo gratuito,
Pintando o céu de um azul belíssimo!
O mar torna-se um imenso lago, que ao beijar a areia quebra seu colar de pérolas, misturando-se com a areia quente.
Guarda-sóis coloridos espalham-se pela areia, embelezando a orla.
Uma massa humana se divide nas cadeiras de praia, nas águas do mar, na areia e no calçadão.
Caminhando, vou observando, curtindo e ouvindo;
Retalhos de conversas de: homens, mulheres, crianças e anciões;
Entre sorrisos e gritos, as falas pipocam como grãos de milho a estourar na panela, cada vez mais quente, mais saltitante.
Fico atenta ao pipocar, impulsionada pelo desejo de melhor conhecer o ser humano.
Neste ir e vir teço minha colcha de retalhos.
Ao finalizar, um sentimento de tristeza borbulha;
A maioria dos retalhos eram queixas e lamentações;
Queixas sobre: custo de vida, desemprego, desamor, traição doenças, remédios, insônia, pesadelos.
As pessoas conseguem dar as costas ao cenário de beleza e esplendor.
Ficam centradas em seu pequeno mundo, confinadas em seu próprio sofrimento.
Penso que muitas delas, devem estar viciadas nas emoções do sofrimento, que as impulsionam a alimentar este sentimento.
Não se permitindo ver o que a natureza esta a oferecer.
Não se permitindo desfrutar do grande presente, que é a própria vida.
Continuo caminhando, atenta ao pipocar das falas,
Com a esperança de que a próxima colcha eu possa ter mais retalhos.
Retalhos de amor, retalhos de alegria, retalhos de ternura.

Autoria, produção e publicação: Claudete de Morais
Psicóloga com formação Psicanalítica
CRP/12/01167